Rubem Alves cunhou o termo “Escutatória” ao publicar um artigo ímpar. Este homem que gostava de ipês amarelos despertou nossos sentidos para a importância de saber ouvir tão ou mais significativo que se empoderar de uma grande retórica.
Djamila Ribeiro por sua vez propõe o “Lugar de Fala” a toda comunidade de pessoas negras, onde em conjunto com Cida Bento, autora da obra “O Pacto da Branquitude” dialogam sobre o romper dos silêncios.
Ao longo do ano de 2023, uma vez ao mês foi possível uma construção dialógica sobre três principais representações no que tange o grupo de estudos em diversidade, equidade e inclusão da ABRH SP, sendo a racial, pessoas com deficiência, comunidade LGBTQIAPN+.
Da curadoria de conteúdo aos debates, a palavra norteadora de cada encontro online foi “aprofundamento”, uma vez que os grupos se colocaram a esta disposição de refletir e construir novas narrativas, como por exemplo a importância de levar pautas para as empresas sobre os crimes de racismo, homofobia e capacitismo, reflexões sobre o livro “O Pacto da Branquitude” ao documentário “Precisamos falar com os homens?“.
Conjuntamente ao aprofundamento dos estudos em diversidade, equidade e inclusão, o lugar de fala é, principalmente, o lugar da escuta. Muito antes da busca por melhores práticas, modelos e estudos de casos entre as empresas para um possível benchmarking futuro, as pessoas e suas transformações individuais.
Para se promover diversidades equidade e inclusão se faz necessária uma mudança pessoal com foco neste exercício constante do lugar de fala se assim uma pessoa fizer parte de um dos grupos subrepresentados ao trazer suas próprias vivências ao grupo de estudos, mas sobretudo o lugar de escuta, saber ouvir e silenciar para compreender os privilégios e aceitar a necessidade urgente de letramento por exemplo.
Enquanto Djamila Ribeiro e Cida Bento propõem dar voz e protagonismo a pessoas pretas na quebra de um silêncio velado, do outro lado a branquitude deve reconhecer que a meritocracia faz parte deste pacto e que consequentemente exclui outros grupos sociais.
Um exemplo que simbolizou o fechamento dos encontros junto a ABRH SP foi a proposta de todas as pessoas participantes assistirem o documentário “Precisamos falar com os homens?” e no término da transmissão de aproximadamente cinquenta minutos de filme ouvir o silêncio como forma de aprofundamento e grandes reflexões.
Muitas vezes caminhamos nas empresas em direção a fórmulas mágicas sobre campanhas, projetos e outros atravessamentos para se sair da borda e chegar do outro lado da margem sem ao menos observar que para se trabalhar com pessoas e grupos diversos é preciso um passo muito simples e ao mesmo tempo complexo, saber ouvir.
De que forma avançar nas organizações sem a base fundamental do lugar de fala e da escuta?
Rubem Alves sempre esteve certo, se faz necessário muito mais cursos de Escutatória do que Oratória.
São Paulo, 15 de Julho de 2024