Por Mônica Vargas, superintendente Nacional de Operações e Atendimento do CIEE
Não se sabe muito bem como a expressão nem-nem foi criada no Brasil, mas é fato que ela, idiomaticamente, busca retratar a resignação e frustração de uma geração que não tem acesso ao básico para o desenvolvimento pessoal e profissional. São milhares de jovens que enfrentam as consequências das recentes crises econômicas, baixa escolaridade, e, por consequência, estão longe da carteira profissional e inserção no mundo do trabalho.
Seja pelo ambiente competitivo, ou acesso sinuoso ao ensino, o jovem brasileiro vem carregando o estigma de pouco interessado, o que o prejudica frente aos futuros empregadores, mas, por outro lado, também impacta as organizações brasileiras que perdem a oportunidade de desenvolver novos talentos, diversificar o time e responder rapidamente aos novos desafios impostos pelo mercado.
O cenário à nossa frente, sem dúvidas, é desafiador, entretanto, acredito no despertar das companhias para a gestão a partir da Diversidade, Equidade e Inclusão, o DEI. Este movimento caminha de mãos dadas com a inserção de mais jovens no mundo do trabalho, principalmente aqueles em situação de vulnerabilidade. A oportunidade segura, como um grande efeito dominó, resulta em direitos trabalhistas assegurados, garante o investimento em aperfeiçoamento pessoal, e, consequentemente, ascensão social.
Para além dos ganhos sociais, que por si só são de extrema valia para o nosso País, a inclusão desta faixa etária ao mundo do trabalho traz consigo o olhar voltado à fluidez dos processos, agilidade na tomada de decisões e quebra de barreiras hierárquicas – ingredientes indispensáveis quando falamos em inovação.
Chamo atenção ainda para o poder da diversidade no ambiente corporativo e como a iniciativa tem impulsionado mudanças significativas na cultura organizacional e a maneira de fazer negócios. O relatório “Diversity Matter”, ou em tradução literal “A Diversidade Importa”, realizado pela consultoria McKinsey, possui uma série histórica, que teve início ainda em 2015, e aponta que os ambientes com corpo executivo diverso é capaz de gerar mais lucros. Enquanto a primeira edição do relatório conclui que essas empresas tinham 15% mais propensão a alcançarem um desempenho financeiro melhor, a última publicação, realizada em 2023, indica quase inacreditáveis 39%.
O relatório ainda mostra que a diversidade é capaz de causar uma mudança holística em como a companhia se relaciona com a comunidade em que está inserida, força de trabalho (incluindo retenção e atração de talentos) e meio ambiente. Pilares que dialogam com os desafios enfrentados no campo Ambiental, Social e Governança, o ESG.
Por esse e tantos outros achados, defendo a relação ganha-ganha estabelecida entre o mundo do trabalho e os jovens. Relação essa que impacta não apenas o retorno de capital imediato, mas na construção econômica futura, pavimentando o caminho para o crescimento da pesquisa científica em território nacional, parque industrial pujante, renda justa e tantos outros benefícios. Esse cenário começa hoje e começa com uma oportunidade.
Crédito da foto da Mônica: Edith Schmidt
(São Paulo, 19 de Fevereiro de 2024)